04 setembro 2011

Favela pra quê?


De uns tempos pra cá tem-se visto uma maior preocupação em discutir a questão das favelas: formas de integrá-las ao restante do tecido urbano, de melhorar a vida de seus moradores, enfim, de torná-las menos insalubres.
Isso tem sido feito e planejado através de políticas e projetos de intervenção urbana, bem como por projetos sociais.
Até aqui essas sempre me pareceram boas iniciativas.
É bem verdade que surgiram e surgem coisas bem interessantes para solucionar a questão da moradia informal e de algumas das necessidades humanas que derivam do seu agrupamento.
No entanto, o que me ocorre é que tem algo errado nisso...!
Parece que houve uma digestão e aceitação da idéia de favela como ambiente urbano consolidado. Obviamente que existem assentamentos rotulados como “em transformação”, mas o fato é que o governo e os civis simplesmente parecem estar concordando com o fato de que a favela é o que é e assim permanecerá.
Como assim?!
Quem mora nas favelas convive diretamente com o lixo, com o esgoto, com a violência, com a dificuldade de locomoção, com a falta de conforto ambiental, com a instabilidade estrutural dos próprios abrigos, além de todos os outros estresses comuns aos outros membros da sociedade.
Quem mora na favela sofre. E sofre muito. Mas eles são fortes. Muito fortes. Eles conseguem viver numa realidade dura e ainda assim sorrir, sacudir o corpo, se virando, na ginga que só eles têm.
Essa força justifica o alto grau de risco a que essas pessoas são diariamente submetidas? Não. Claro que não.
Mas parece que já acharam um jeitinho de deixá-los lá...no lugarzinho deles, na vidinha deles.
Muito mais fácil gastar rios de dinheiro com coisas que não solucionam os problemas infra-estruturais, como fazer um saneamento básico precário semelhante ao resto da cidade, criar campinhos de futebol, parquinhos, centros comunitários, etc, do que de fato mudar a realidade das pessoas que por diversos fatores histórico-político-sociais encontram-se morando em favelas.
Difícil é dar educação de verdade, saúde de verdade (note que a saúde está diretamente ligada à salubridade do habitat), criar empregos... Condições estas que necessariamente viabilizam o desenvolvimento intelectual, emocional, pessoal e, conseqüentemente, do todo.
Quando me indigno e não aceito a favela, não significa querer que ela se exploda ou que seus moradores tenham que ser removidos do lugar. Muito pelo contrário! Afinal, todos escolhem um lugar para se assentar. Existem muitas, muitas favelas... E a escolha entre morar em uma ou outra depende da história e do desejo de cada um. Ou seja, não faz sentido deslocar os moradores do ambiente onde se sentem em casa, em sintonia com a terra, com o lugar. Isso se confirma pela observação da dificuldade ou ausência de adaptação com o novo habitat imposto, o eu já foi testado em várias ações governamentais.
Se todos os brasileiros, que são extremamente criativos, tivessem o mínimo necessário para sobreviver, aí sim teríamos uma sociedade muito mais participativa e envolvida com suas próprias questões. E o que é mais importante: em condições humanas reais de habitação.
Deve-se atentar para que as intervenções nas favelas sejam mais profundas, em todos os aspectos. E que considerem as reais necessidades dos cidadãos que as ocupam.
Essa é uma discussão que tento colocar para que se pense nas ações aparentemente viáveis, mas que na verdade não alteram a realidade: o verdadeiro paliativo.
Estou longe de sugerir a resposta para todas essas questões, mas de uma coisa eu tenho certeza: está faltando “querer”.

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